1967. Seu cheiro e suas palavras parecem impregnados no corpo daquela ruiva. Depois de quase duas décadas, seu cheiro ainda persegue os meus dias e meus beijos absurdos de bares sujos. Até sua risada está naquela cadeira vazia do bar.
Os meus demônios se misturam com os seus… Ficou tanto de você que não sei o quanto levou de mim quando partiu. Nossas promessas se tornam lembranças perdidas naquele parque que costumávamos nos sentar toda manhã, onde agora minhas lágrimas e meus braços encolhidos embaixo do peito tentam segurar a solidão que é não sentir o seu perfume adocicado se misturar com o cheiro fresco da chuva da madrugada.
Desculpa pela fraqueza de dizer que eu estava indo bem, e chorar com a falta do sorriso da minha garota. Das coxas mais lindas que já vi enroscadas nas minhas todas as manhãs. Dos planos e da lista de supermercado que não consigo apagar. Ainda é 1975 e parece que a vida parou naquela noite.
Eu não pude nem te olhar nos olhos pela última vez e dizer que queria roubar as tristeza deles. Não tive a chance de lavar sua alma com mais amor do que dor, de arrancar o seu sorriso pra guardar no bolso e levar sempre comigo.
E sobre a ruiva… Eu não queria, amor. Sinto que te traí, faltava um dia pro nosso dia… Mas ela tinha o seu perfume e, por um momento, ela não parecia ter cabelos avermelhados… Parecia apenas a minha pequena morena dos olhos negros.