Falta de amor me resulta em gordura – e ausência de compreensão faz todo o lipídio que eu ingeri virar espinha. Eu ajo o tempo inteiro com amor, mas, na verdade, no sentido literal da expressão, eu não recebo amor: eu sou mal amada.
Se for pra ser mal amada, eu quero ser mal amada dos dentes brancos, do cabelo arrumado e da pele boa. Se todo cara que for ruim pra mim resultar numa acne, minha glândula sebácea vai trabalhar em função do cérebro que, no meu caso, funciona e bate como se ficasse no coração! E existe coisa mais perturbada do que oleosidade depender de hormônio adolescente da paixão? Vou dar um jeito.
Vou bater o meu “amor ao próximo” no liquidificador, dividindo metade em ‘amor ao próximo que merece’ e a outra parte em ‘amor próprio’. A metade sólida, que vai ser a casca da laranja espremida, será o meu amor individual, intocável e lindo por mim mesma. Enquanto isso, o sumo, cheio de átomos maleáveis e moléculas que, se começarem a colidir rápido demais – por conta de piti-nervoso – evaporam e viram gás… E, deixando de ser parte do suco, deixam de ser amor.
Hoje, ao me deparar com uma mensagem muito agradável no meu celular, de alguém que acha que sou propriedade privada (dele), eu pedi o bombom: “mãe, vou comer chocolate pra esquecer”. Mas, quando peguei na embalagem amarela daquele Serenata gostoso, pensei em quantas vezes meu refúgio de decepções – e stress com a parte masculina da relação a dois – beneficiou a empresa alimentícia. A cada amor não resolvido, o setor de doces lucra comigo. Finalmente, percebi o quanto comer açúcar nessas situações não adianta nada! A saúde não aumenta e o amor não melhora depois do doce pós-desilusão.
Aí parei pra pensar… Formiga é o bicho que sacia a fome com grãos de açúcar, certo? Mas eu não mereço grãos! Eu não sou formiga. “Por que você não é formiga?”, perguntei a mim mesma, ao meu animal interior e ao meu âmbito guloso. Pensei, pensei e pensei. “É isso!”, concluí com meus botões gordinhos. Eu não me contento com migalhas! E o final do dia chegou… Sem serenata, sem amor e sem Serenata de Amor. Eu sim que sou mulher vitoriosa!
Rúbia Guerra Resende é pintada no rosto e colorida na alma. Sardenta, estudante de Letras e inventora de moda por genética, é pisciana sensível, chocólatra por hábito e bonita de coração. Romântica nata e sarcástica por sobrevivência, descabela em seus dramas e desfaz seus próprios nós com pente fino, querendo voltar inteira. A autora vê espiritualidade sóbria nas conversas de bar, ouve o barulho da brisa e sente vibração boa sem mar. Em Belo Horizonte, a brisa é de bar. Ah, brisa de bar… Esse é o nome do seu blog!
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“Vou bater o meu “amor ao próximo” no liquidificador, dividindo metade em ‘amor ao próximo que merece’ e a outra parte em ‘amor próprio’.”
amei! obrigada por abrir meus olhos e me descrever. a gente merece muito mais que migalhas, neh? bem vinda e ja estou anciosa por mais textos
Fantástico !
Que texto lindo, parabéns Rubia.
menianas leiam , vale a pena!!!!!
manda nudes