Dizem que o primeiro amor a gente nunca esquece. Detesto desapontar minhas fiéis leitoras ao confessar que não recordo exatamente como foi que tudo aconteceu. Talvez tenha sido o encontro semanal com aqueles cachos perfeitamente hidratados que balançavam em perfeitas ondas negras nas minhas aulas de inglês. Ou quem sabe tenha sido a influência dos reflexos preto-azulados das longas mechas trançadas que ondulavam na recepção da academia sempre que eu ia malhar. De qualquer forma, o fato é que: aos quinze anos, eu estava perdidamente apaixonada por preto e pela ideia de tingir meus virgens fios de cabelos loiro-escuros daquela cor…

É claro que minha mãe ficou completamente horrorizada com a ideia. Tudo bem eu passar horas lendo revistas de penteados pra aprender a fazer as mais mirabolantes acrobacias capilares em casa. Tudo bem torrar toda a minha mesada em óleo reparador de pontas, gel iluminador, laquê, cremes de hidratação e shampoo de limpeza profunda. Mas tintura? Permanente? De preto-azulado-tipo-gótico-estilo-vocalista-do-Evanescence? No way… Só por cima do cadáver dela.

Depois de muitos gritos, greves de fome e ameaças de raspar a cabeça por preferir não ter cabelo se não pudesse ter na cor que eu quisesse, eu e minha mãe entramos em um acordo: pequenas mudanças de cada vez. Primeiro eu fiz uma balayage com tons levemente mais escuros que a minha cor original. Meses depois, eu tonalizei de uma cor só, pra mais tarde descolorir as pontas e fazer californianas coloridas. Algum tempo depois, pintei o cabelo de vermelho-escuro, vermelho-cereja, vermelho-cobre e vermelho-profundo pra finalmente, quase dois anos depois da minha odisseia de tinturas, pintar o cabelo de preto. E fazer mechas roxas em seguida, pra pintar o cabelo de preto azulado logo depois, até enjoar da cor e começar a fazer tudo de novo.

Exageros à parte, posso dizer que já mudei a cor dos meus cabelos com quase tanta frequência quanto mudava de humor e passei das tonalidades mais discretas às mais extravagantes; e apesar disso meus cabelos não caíram, não mudaram sua cor natural pra um verde-alienígena super esquisito e nem ficaram ressecados tipo palha. Sinceramente, eu considero meus cabelos muito saudáveis apesar do vício em tinturas, mas isso, obviamente, não aconteceu sem alguns cuidados simples, porém essenciais.

Antes de decidir a cor, de comprar creme, de fazer pesquisa de preço, de qualquer coisa, o mais importante é decidir o tipo de tintura a ser aplicada, e eu explico… Tintura, tonalizante e tintura semi-permanente não são a mesma coisa, cada um exige cuidados diferenciados, que podem satisfazer (ou não) o resultado que você espera.

A tintura permanente, por exemplo, é considerada a mais prejudicial aos cabelos porque tem amônia e agentes oxidantes que descolorem os fios do cabelo pra depois fixar o pigmento da nova cor e, em geral, só sai com macumba cortando o cabelo aos poucos. Por ser muito agressiva aos fios, esse é o tipo de tintura que mais exige cuidados com hidratação periódica e aconselha-se que seja feita no salão de beleza com um profissional qualificado, pra não correr o risco de ficar com o cabelo em vários tons e manchado. Sem mencionar que, se você já fez algum outro tipo de tratamento químico (alisamento, relaxamento) ou só adora uma chapinha ou babyliss, vale consultar um especialista que garanta o bom resultado do processo (ou que possa te indicar outro tipo de química que não vai deixar suas mechas parecendo palheiro).

A segunda mais procurada no ranking das tinturas é a chamada semi-permanente (ou shampoo tonalizante). Apesar de conter água oxigenada, esse tipo não altera tanto a estrutura original do cabelo (remove bem pouco a coloração natural dos fios). Na verdade, ela meio que “pinta por cima” da cor original. A desvantagem é que a cor vai desbotando e saindo a cada lavagem, então se você lava o cabelo todos os dias sua nova moda não vai durar mais do que 2 semanas (três, dependendo da cor do seu cabelo e da tinta), e se você ficar aplicando o shampoo duas vezes por mês, não há couro cabeludo que sobreviva (né?!). É importante ressaltar que dependendo das cores (cabelos muitos claros que vão ser escurecidos), a tintura dificilmente é eliminada por completo e o seu cabelo pode ficar manchado.

Finalmente e não menos importante, o meu favorito: tonalizante. Eu digo favorito porque é o que dá menos trabalho… Em tudo. Pra pintar, pra tirar, pra hidratar, pra mudar de cor… O tonalizante age só na superfície (superfície MESMO) do cabelo – ou seja, não clareia tons escuros, só escurece os claros – e é com ele que se faz essas coisinhas de moda tipo chocolate-acobreado, preto com violeta, marrom com sei lá o que… O bom do tonalizante é que ele sai… COMPLETAMENTE, sério, eu passei tonalizante roxo no meu cabelo loiro-escuro pra ir numa festa a fantasia e um mês depois ninguém diria que eu tinha feito qualquer coisa. Essa pode ser uma desvantagem, dependendo do tempo que você pretende ficar com o cabelo dessa cor, sem contar que ele dá um brilho meio cheguei-na-festa pro seu cabelo e fica bem artificial (bom, se você pintar de rosa ou verde, todo mundo vai saber que é artificial).

Mas, de maneira geral, eu particularmente acho inteligente escolher as outras coisas (tipo de tinta e cor) levando em consideração alguns itens (nessa ordem de relevância):

• Por quanto tempo você pretende ser loira, ruiva, ou morena? Pintar o cabelo de preto ou vermelho com tintura permanente, pra mudar de ideia um mês depois, não é uma boa ideia.

• Você se considera uma pessoa cuidadosa com seu cabelo, ou lava até com detergente, joga pra um lado e pro outro e sai pra balada? Tintura traz consigo uma série de preocupações com cremes, exige que você use shampoos especiais (você vai observar seu dinheiro indo pelo ralo junto com o pigmento do seu cabelo a cada lavagem) e, como eu mencionei, limita um pouco as outras peripécias que podem ser feitas com o seu cabelo em um certo limite de tempo.

• Seu orçamento é compatível com o que você pretende fazer? Pintar o cabelo no salão é caro (dói na alma na hora de pagar, por mais que seu cabelo tenha ficado DI-VI-NO, e dói mais ainda se não ficar…) e, dependendo do que você quer fazer, se aventurar de hair-stylist em casa pode causar sééééérios problemas, dores de cabeça e azulejos de banheiro coloridos eternamente. Sem contar que loira com raiz escura de um palmo é brega (com todo respeito, mas é) e os seus cabelos vão precisar de retoques constantes… Ainda é necessário ressaltar que pra tirar algumas tinturas do cabelo, só com produtos importados que são uma leve facadinha por si só. E tudo isso sem mencionar (de novo) as lindas-maravilhosas-salvadoras-de-vida-e-cabelos: hidratações periódicas que toda tintura pede.

• Qual é seu estilo de vida / temperamento? Eu explico: por mais que o cabelo da Hayley do Paramore seja um vermelho-sonho-de-consumo, não significa que você vai se achar um arraso com aquela cor no cabelo. A minha mãe foi loira-loiríssima a vida inteira e, no dia que ela escureceu dois tons no cabelo, entrou em crise existencial porque não se reconhecia no espelho… E realmente, qualquer mudança radical pode ser um choque, então é bom pesar as coisas e talvez ir fazendo uma mudança gradativa no cabelo. Também mencionei estilo de vida porque comecei meu estágio essa semana. Até então, eu sempre tinha trabalho com coisas “meio indiretas” ou “não bem um trabalho de verdade” (nos laboratórios da faculdade, dando aula, ou qualquer outra coisa de universitário que precisa de dinheiro e não tem as horas disponíveis que uma empresa demanda… E nesse meio, se você tem cabelo loiro ou laranja, ninguém liga muito. Agora, experimenta ir numa entrevista pra auxiliar de vendas numa multinacional ou pra professora de jardim de infância com o cabelo cor-de-rosa pra você ver…

Por último, meninas, eu só queria dar algumas dicas pras aventureiras de primeira viagem que morrem de vontade de pintar o cabelo e só estão esperando uma vaga naquele salão disputadíssimo:

1) Teste a tintura pra ter certeza de que você não é alérgica. Em todo salão de beleza é feito e, se for tingir o cabelo em casa, as embalagens de shampoo tonalizante, tintura permanente e semi-permanente trazem instruções de como fazer.

2) Cuide de seus cabelos com produtos específicos pra cabelos tingidos. A cor dura mais tempo e esse shampoos, condicionadores e leave-in já ajudam a mantê-los macios e hidratados.

3) Use creme pra pentear / leave-in com filtro solar. O sol desbota a cor do cabelo.

4) Não lave o cabelo antes de pintar. A oleosidade natural da raiz ajuda a fixar o produto e faz com que danifique um pouco menos os fios.

5) CAPRICHE NA HIDRATAÇÃO!!! Vou martelar bastante nessa tecla porque é o mais importante… Tintura sempre resseca o cabelo, independente do tipo, e me parte o coração ver garotas que tem o cabelo fininho e quebradiço por excesso de química no cabelo.

Espero ter ajudado e aguardo notícias dos seus novos cabelos!

Beijos, Clah.